É interessante, porque eu acho que gosto mais dessas poesias escuras do que gosto das apaixonadas e talvez seja mais explicado de explicar o motivo do que as próprias poesias em si. Se a poesia passada não foi capaz de explicar o que se passava comigo nessa época, essa daqui pode arrematar qualquer dúvida.
O mais bonito pra mim é o fato de que ela se chama "Metamorfose". Pelo menos na minha cabeça, a primeira ideia que me vem quando eu penso sobre essa palavra é na transformação da lagarta em borboleta, depois de sair do casulo. Mas eu gosto muito de quebrar essas lógicas e a minha metamorfose não é tão bonita quanto à da borboleta...
Essa era uma criança com as asas da infância grandes e fortes, cheia de sonhos e certezas; o eu-lírico agora se mostra fraco, sem esperança, sem sonhos, apenas dor e sofrimento, um novo ser engolido pela escuridão. Sempre a Escuridão!
Minha estrofe preferida com certeza é a terceira: "As nuvens negras já passaram e o que restou?/ Resta ainda a dor que me causaram,/ As perdas e os sonhos que me roubou,/ Sem saber, desamparada, me arrasaram". Gosto dessa ideia de que depois da tempestade não vem a calmaria, você tem de lidar com o que a Tempestade trouxe... Eu vou voltar a esse assunto quando falar sobre os terceiro e quarto livros de A Casa das Hostesses, "Storm" e "Darkness", porque é essa a ideia que os fez nascer na minha cabeça...
Também gosto muito que na quinta estrofe, o eu-lírico começa falando com a "Doce boneca", que tanto pode ser atribuída as remanescências da infância, quanto a si mesma, uma criatura de sorriso pintado e peito vazio.
Poesia do dia 25 de julho de 2008 (sexta-feira)
Metamorfose
Eu estou caindo, caindo, mudando...
Quero me perder pra conseguir me encontrar.
Corrente por corrente, estou me libertando,
São as piores experiências que nos fazem melhorar.
Eu já não tenho mais asas, mais suporte,
Não tenho forças, nem no que acreditar.
Sozinha, já não sou mais assim tão forte,
Mas os caminhos se perdem sem nos avisar.
As nuvens negras já passaram e o que restou?
Resta ainda a dor que me causaram,
As perdas e os sonhos que me roubou,
Sem saber, desamparada, me arrasaram.
O sol de um novo dia perde o brilho da esperança
Aos olhos desencorajados do meu sofrimento.
Calada, choro as chagas, sem confiança
Sem jamais reclamar o meu contentamento.
Doce boneca, como aguentar a vida inexistente?
Como aguentar tanta angústia, tanta Escuridão?
A luz que eu busco é um reflexo aparente
De sonhos que padecem na minha ilusão.
A minha fragilidade tem que ser calada
Porque ninguém entende o que eu sinto.
Não é suficiente ouvir que toda queda será superada
E é só pra não ouvir isso que eu minto...
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