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quinta-feira, 21 de junho de 2018

Desnivelada


Depois de muito tempo sem conseguir escrever uma nova poesia, ontem eu estava mexendo nos meus cadernos e encontrei uma poesia começada que eu nunca terminei.

A última poesia que eu escrevi (Shadows), como eu já contei aqui antes, foi em 2014, mas essa que eu encontrei era de 2016 e tinha uma peculiaridade que eu nunca tinha feito antes: ela tinha duas estrofes prontas, a primeira e a última. (no maior estilo Bentinho que eu poderia tentar imitar, como minha irmã mesma observou).

Eram estrofes realmente muito boas e eu não teria coragem de desperdiçá-las, tanto que ficaram ali paradas no meu caderno, desde março de 2016 e eu nem mexi nelas uma única vez no ano passado. Ontem, eu decidi tentar fazer alguma coisa com elas, mas, como eu não sou nada exigente <irônica>, eu mesma de 2016 não tinha me deixado um trabalho fácil.

Da mesma forma que as últimas poesias que eu escrevi, eu tinha deixado um espaço para as estrofes terem 5 versos, com rimas ABBAB. Eu tinha a primeira e a última estrofe e tinha me deixado 5 outras em branco para serem preenchidas. Claramente um desafio que alguém enferrujado de escrever poesias daria meia volta e fingiria não ter visto nada.

Mas, eu não deixei isso me desanimar e é com orgulho que agora eu divido com vocês a primeira poesia que eu escrevo em 4 anos:


Desnivelada

Antes fosse eu mais que um pedaço,
Parte alguma, sem direção,
Parte de nada, arrancada do chão...
Partida, quebrada, sem qualquer laço.
Eu sou o começo dessa Solidão.


Eu caminho nesse mundo escasso
E me sinto vazia nessa imensidão.
Sobra tanto descaso e falta em compaixão.
Minha vida, cheia de estilhaço,
É vida apenas na definição.


Eu carrego o peso do fracasso
Como se a vida fosse uma competição;
Como se tudo fosse uma lição
Aprendida apenas com o cansaço
Que drena toda minha vocação.


Eu não tenho mais a força do meu braço,
Não tenho o ímpeto da Inspiração.
Sem minhas asas, os pés andarão
Sem rumo, com a vida ao meu encalço,
Correndo atrás de alguma emoção.


A Rosa da Manhã eu despedaço,
Sem entender minha alucinação.
Sinto o arrependimento sujar minha mão,
No vil desejo que eu satisfaço
Ao despetalar minha afeição.


Nesse anoitecer, eu me desfaço
E me misturo à Escuridão.
Minha alma, presa a essa distorção,
Sangra contra a dor a que me trespasso
É só o que existe nessa estação.


Eu me achei perdida nesse espaço
Não existe sonho nesse coração...
Não existe "sim", só existe o "não"...
Tudo o que eu faço
É só mais um pedaço de ilusão...